ILSI em Foco – novembro 2021 – Entrevista

Entrevistamos Eloísa Dutra Caldas (UnB, membro do C3 e da FT Agroquímicos do ILSI Brasil), uma das palestrantes do webinar “Avaliação do Risco Dietético no Brasil: Tendências e Desafios”, realizado pela Força-tarefa Agroquímicos, no dia 26 de outubro.

A senhora pode discorrer de maneira breve sobre a importância da avaliação do risco dietético?

O fato de um alimento conter resíduos de pesticidas, mesmo que acima do limite máximo de resíduos (LMR), não necessariamente indica um potencial risco para a saúde, sendo necessário conduzir a avaliação de risco. Neste processo, além da concentração de resíduos do pesticida num dado alimento, é necessário saber quanto do alimento se consume, o peso corpóreo da população, e qual o nível de exposição da população ao pesticida que pode ser considerado seguro (ingestão diária aceitável (IDA), para exposição crônica e a dose de referência aguda (ARfD) para exposição aguda).

 

Como a Anvisa avalia o risco dietético e quais são os critérios utilizados pela agência?

A Anvisa avalia o risco em dois momentos: 1) durante o processo de registro de um novo pesticida ou na aprovação do uso deste pesticida em uma cultura que não tenha sido incluída anteriormente. Nessa etapa, a concentração do pesticida considerada é o STMR (supervised trial median residues), ou quando esse valor não está disponível, o LMR; 2) no pós registro, quando dados de monitoramento de resíduos são usados como parâmetro de concentração do pesticida, obtidos do Programa de Análise de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), conduzido pela Anvisa. Em ambas situações, dados consumo de alimentos e peso corpóreo são obtidos da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) conduzida pelo IBGE, que inclui indivíduos a partir de 10 anos.

Quais são os principais desafios nesta área de pesquisa, aqui no Brasil?

A área de avaliação de risco está em constante evolução, e nos últimos 10-15 anos novas estratégias tem sido desenvolvidas. Entre elas podemos citar a avaliação de risco cumulativa, que considera junto todos os pesticidas com o mesmo mecanismo de ação tóxica ou que causam o mesmo efeito adverso (hepatotóxico, neurotóxico), o uso de benchmark dose como parâmetro toxicológico, e a avaliação da exposição dita “less than life time exposure”, ou seja, intermediária entre a exposição crônica (“life time exposure”) e a exposição aguda (no período de 24 horas). Adicionalmente, é necessário gerar dados nacionais de consumo para crianças até 9 anos para se conduzir a avaliação de risco para essa subpopulação .

Como a senhora entende o papel da ciência no fechamento de lacunas de conhecimento e como o ILSI Brasil pode ajudar nessa função?

A ciência identifica lacunas relevantes e avança no conhecimento. Esses avanços podem também ocorrer a partir de demandas da sociedade civil e dos órgãos do controle. A ILSI pode ajudar nesse processo fazendo essa ponte entre os três  grupos, por meio de seminários, publicações e uma boa comunicação com a sociedade