XVI Evento Internacional Alimentos Funcionais e Compostos Bioativos

O XVI Workshop Internacional Alimentos Funcionais e Compostos Bioativos, realizado no final do ano passado, teve o objetivo de mostrar os avanços , perspectivas e desafios nesta área, sob o ponto de vista de especialistas internacionais e brasileiros.

Dra Iris de Hoogh, da Organização Holandesa para Pesquisa Científica Aplicada – TNO, destacou que hoje há uma nova visão sobre saúde, que vai além do bem-estar físico e mental e engloba a resiliência, definida como a capacidade instalada de todos os processos fisiológicos, isto é, metabolismo, inflamação e oxidação, para se retornar aos níveis homeostáticos após um distúrbio de curto prazo. Devido ao envelhecimento, estilo de vida ou doença, esses processos tornam-se menos flexíveis.

Num contexto onde há limites tênues entre um estado saúdavel,  sob risco, ou  de doença, a  aplicação de testes de desafio, pode ser uma alternativa. É uma abordagem científica inovadora  na ciência da nutrição, que visa desenvolver métodos e ferramentas de pesquisa padronizados,  usando novas tecnologias ômicas para  avaliar e fundamentar efeitos sutis  da relação dieta-saúde. no organismo, numa análise alicercada na nova definição de saúde e em biomarcadores  múltiplos, precoces, definidos  por abordagem baseada em  baseados em biologia de sistemas .Pesquisas do instituto permitiram identificar 134 biomarcadores-chave capazes de descrever a resiliência em  múltipla funções metabólicas  e,  a resposta a intervenções, no individuo como um todo.

Diferentes macronutrientes e compostos bioativos agem de forma distinta em processos regulatórios sobrepostos envolvidos na flexibilidade fenotípica.  Assim, a saúde pode  ser medida em termos de flexibilidade, para captar a capacidade do sistema regulador  de  adaptar-se aos desafios externos e a  resiliência, que se  melhorada,  pode ser considerada um efeito fisiológico benéfico e passível de alegações de saúde.

Não se pode desconsiderar que a saúde é um sistema, com interação entre órgãos, biologia do individuo, nutrição (comportamento dietético), aspectos psicossociais e genética, e adoção de um estilo de vida saudável ou não.  Nada é estático. O olhar deve ser individual, na pessoa, mas ao mesmo tempo global abrangendo o indivíduo como um sistema complexo e integrado.

O Prof. Dr. Marcelo Rogero, da Faculdade de Saúde Pública da USP, chamou a atenção para o alarmante crescimento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis – DCNT e o aumento expressivo de indivíduos com excesso de peso – 2,1 bilhões- e obesidade – 604 milhões, que representa um grave problema de saúde pública, que atinge países desenvolvidos ou em desenvolvimento. A obesidade está associada a um quadro de inflamação crônica e de baixa intensidade, que envolve células metabólicas em resposta ao excesso de nutrientes e energia e que predispõe à resistência à insulina e ao desenvolvimento do DMT2, o que implica em maior risco para doenças cardiovasculares.

Por isso, a ação de alguns compostos bioativos presentes na alimentação na modulação da resposta inflamatória relacionada à obesidade, ganha importância nas pesquisas. Eles atuam na manutenção da saúde e na redução do risco de doenças, por meio de mecanismos capazes de modular a expressão de genes que codificam proteínas envolvidas em vias de sinalização celular ativadas em DCNT. São, portanto, relevantes na função antioxidante e anti-inflamatória.

Diante desses fatos, é fundamental ter uma dieta variada, a qual contenha adequada quantidade de alimentos fontes de diferentes compostos bioativos, com ação na redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis. Dentre eles podemos destacar a curcumina (açafrão da terra) — por apresentar ação antioxidante e anti-inflamatória – ; capsaicina (pimenta vermelha); gingerol (gengibre); catequinas (chá verde); resveratrol (uva); quercetina (cebola e maçã) e hesperidina (suco de laranja).

O Prof. Dr. Thomas Ong, da USP/FoRC falou sobre alimentos funcionais, polimorfismo genético, mecanismos epigenéticos e alvos moleculares de compostos bioativos.  Observou que o câncer de mama é um das principais causas de morte no Brasil, devido à descoberta em estágios já avançados e que é possível a remissão em torno de 30%. A prevenção é o caminho mais seguro e a obesidade pode representar um aumento nos riscos de se ter a doença, considerando que o câncer decorre por fatores ambientais e apenas 10% dos casos têm base na genética.

Por isso, uma dieta equilibrada com a inclusão de alimentos funcionais pode gerar um efeito protetor à saúde e a agentes carcinogênicos, devida à presença de compostos bioativos. Eles agem em vários níveis moleculares e cada indivíduo tem sua própria resposta. Estes compostos têm a capacidade de afetar a regulação da expressão gênica de curto prazo e mutações podem ser reversíveis e moduladas pela dieta. Portanto, a abordagem epigenômica pode ser um alvo promissor na prevenção do câncer, com foco em fases críticas, quando as alterações ainda são sutis e é possível se interferir nestes processos para alterar esta proliferação.

Neste contexto, deve se considerar a importância da nutrição da própria mãe, durante a gestação, pois esta alimentação pode se refletir em risco para a criança na vida adulta, devido a disfunções metabólicas durante sua formação ainda no útero. O alto ou baixo peso do bebê ao nascer pode representar um risco para doenças metabólicas e câncer, tendo sua raiz nos efeitos transgeracionais.

A intervenção nutricional surge como uma janela de oportunidade na prevenção do câncer de mama.  Pesquisas, ainda restritas, sinalizam que a desnutrição da mãe pode interferir na sua descendência. Já a nutrição do pai seria capaz de afetar também padrões celulares. Estudo com ratos mostrou que a deficiência paterna de selênio aumentaria o risco de câncer nos filhos. Portanto, a prevenção do câncer, em especial o de mama, deve começar já na pré-concepção. Estudos com compostos bioativos de citros, que estão sendo conduzidos pelo grupo, já têm mostrado efeitos de proteção ao nível epigenético.

Dra Marília Seelaender, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP apresentou a ação dos aminoácidos e proteínas na manutenção da massa muscular no envelhecimento e as novas evidências nesta área. Destacou a importância da preservação e qualidade de vida do idoso, diante da perda da massa muscular magra que está sendo substituída por massa gorda, gerando problemas de saúde e funcionalidade. Esta perda é gradativa. A força muscular decresce 30% entre 50/70 anos e se apresenta de forma mais brusca a partir dos 75/80 anos, sendo diferente entre homens e mulheres, além de poder estar associada a uma redução de cognição.

A sarcopenia é um processo patológico e envolve a redução das funções associadas a ela, como mobilidade e autonomia do idoso, e ocorre, concomitantemente, a outros aspectos inerentes ao envelhecimento, como os nutricionais, a maior saciedade com poucos alimentos, dificuldade de digestão, redução hormonal, além de uma inflamação sistêmica crônica de baixo grau, que sinaliza a necessidade de uma maior ingestão protéica e de aminoácidos.

Para atenuar a perda de massa magra associada à resistência anabólica com o envelhecimento é necessário combinar um programa de atividade física com exercícios de endurance e de força (mais repetições, menos carga), adotar fracionamento protéico na dieta, com doses seguras, e utilizar aminoácidos e metabólitos que modulem a expressão gênica das vias de aquisição/ perda de massa magra e de inflamação.

Dr. Francisco Tomas-Barberán, do CSIC na Espanha, mostrou dados sobre a relação de flavonóides e o risco cardiometabólico: microbioma e variação individual e biomarcadores. Destacou que os flavonóides são compostos bioativos e que no intestino, a microbiota metaboliza e transforma esses compostos em outros derivados de forma diferente em cada indivíduo. A questão é relevante para explicar porque algumas pessoas respondem e outras não diante da inclusão e consumo dos bioativos na dieta e de que forma isso ocorre. Perante esta variabilidade interindividual, fatores como biodisponibilidade, resposta biológica, estilo de vida, genética e idade devem ser avaliados, além da própria microbiota, que possui composições, e gera metabólitos e efeitos diferentes na saúde de cada um.

A microbiota intestinal cataboliza os polifenóis, em metabólitos  bioativos, biodisponíveis e persistentes no organismo. Existe uma variação interindividual na composição da microbiota intestinal e isso leva à variabilidade interindividual no  seu metabolismo intestinal: diferentes metabólitos bioativos equivalem a diferentes composições de microbiota intestinal, o que resulta em diferentes efeitos dos polifenois sobre a saúde.

Há um amplo campo de pesquisa nesta área com a necessidade de  estudos de correlação da estrutura de metabólitos de polifenóis, com a composição de microbiota intestinal: metabótipos com enterotipos, além de estudos de intervenção para estabelecer os efeitos sobre a saúde dos metabólitos na microbiota intestinal. Fica clara a posibilidade e importância de estratificar os indivíduos conforme  marcadores  obtidos pela análise da microbiota para identificar  sub-grupos de pesspas que podem se beneficiar com ação dos bioativos (que respondem) e separá-los daqueles que não respondem.

 

As perspectivas passam por obter  formas de modular a microbiota intestinal para melhorar a saúde através da interação com polifenóis: garantir metabólitos bioativos e  também compreender melhor os efeitos dos polifenóis sobre a saúde .A aplicação desse conhecimento é importante  para desenvolvimento de novos alimentos funcionais, nutracêuticos e mesmo para medicamentos e para uma nutrição personalizada. Isso é o que aponta o futuro.

 

Dra Neuza Hassimotto, docente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e do Centro de pesquisa em Alimentos (FoRC), comentou sobre o processamento, interação com microbioma, biodisponibilidade e metabolismo de flavonoides.

 

Embora os flavonoides sejam importantes fontes dietéticas de compostos antioxidantes, há uma carência sobre a estimativa de ingestão diária destes compostos pela população brasileira. Estes dados são importantes para avaliar o efeito protetor destes compostos contra o desenvolvimento de doenças crônicas.  A partir dos dados da POF 2008/2009, verificou-se que as maiores fontes dietéticas de flavonoides do brasileiro são a laranja, cebola, feijão, chocolate e açaí, o que representa a ingestão aproximada de22 mg/dia.

 

Por outro lado, estes dados podem ser maiores dependendo da fonte de informação utilizada para o cálculo da estimativa. Ainda assim, os valores são muito baixos, quando comparados a outros países como a Coréia, 318 mg/dia (2007/2012) onde alimentos como maçã, citrus, tofú, cebola e uva são os maiores contribuintes e os EUA, 189,7 mg/dia (1999/2002) com o chá, citrus e vinho. Estes valores também sinalizam que o perfil de consumo de flavonóides muda de acordo com os hábitos alimentares da população.

 

Observou ainda que haja muitos estudos sobre os possíveis mecanismos de ação dos polifenóis no organismo e que diferenças interindividuais influenciam nas respostas biológicas e de biodisponibilidade.  Fatores como a composição de flavonoides do alimento, estrutura química, matriz alimentar e perfil da microbiota intestinal podem afetar a biodisponibilidade destes compostos sendo difícil determinar uma dose de consumo diário. Ainda neste contexto, o processamento do alimento pode afetar a composição de flavonoides, exemplo do feijão preto cru, fonte em antocianinas, mas que com o cozimento há a destruição destes com a formação de outros compostos fenólicos não presentes inicialmente no feijão cru.

 

Dra Inar Alves de Castro, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, Laboratório de Desenvolvimento de Alimentos Funcionais, focou nos alimentos com fitosteróis e o controle do colesterol. Ressaltou que as doenças cardiovasculares causam, anualmente, a morte de 15,6 milhões de pessoas e deve atingir 23,6 milhões em 2030, gerando altos gastos na área de saúde na casa de bilhões de dólares. Porém, no mínimo 80% da doença coronariana, dos acidentes vasculares, do diabetes tipo 2 e 40% dos diferentes tipos de câncer poderiam ser evitados com dietas saudáveis com menos sal, açúcar, gorduras saturadas e trans, mais frutas e verduras, castanha, peixe, azeites, cereais, atividade física regular e sem tabagismo.

As doenças cardiovasculares estão associadas ao excesso de LDL colesterol, inflamação e estresse oxidativo que, portanto, devem ser controlados. A maior parte do colesterol é sintetizada e não ingerida e as estatinas são uma alternativa para se reduzir a síntese do colesterol endógeno.    Porém, entre 40 e 75% dos tratados não alcançam as metas de redução, devido a características individuais do metabolismo.

Estudos têm focado no uso dos fitosteróis para auxiliar neste controle, pois são estruturas semelhantes à do colesterol. Os índices de sucesso na redução do colesterol estão entre 6% e 15%, com o uso destas substâncias. Por isso, em muitos casos há uma combinação no tratamento com ezetimiba e estatinas (medicamentos) e fitosteróis.

Medicamentos agem mais rápido e com maior intensidade, já os lipídios bioativos têm como vantagens maior aderência; menor efeito adverso e prevenção. Porém as respostas são individuais e atreladas a características genéticas. Por isso, há tratamentos com maior ou menor resultado diante da conduta médica adotada.

Os alimentos e suplementos com fitosteróis estão, aos poucos, ganhando espaço e novas regulamentações para os diferentes claims. O mercado de Alimentos Funcionais, em 2012, era de $43.9 bilhões. Seis em cada 10 indivíduos consomem pelo menos, eventualmente, alimentos funcionais e 29% visam à redução de riscos para doenças cardiovasculares.

Ainda há muito a investigar como polimorfismos, condições basais, caracterização em termos de absorção e síntese, nas respostas individuais; a viabilidade econômica; estabilidade oxidativa e marcadores, no que se refere aos fitosteróis; além de estudos de longo prazo, biomarcadores mais adequados, interações com medicamentos e avaliações de desfechos clínicos.

O que se pode concluir é que os alimentos funcionais contendo fitosteróis representam uma alternativa interessante para a prevenção de doenças cardiovasculares. Isoladamente, podem substituir ezetimiba para alguns pacientes em co-terapia com estatinas. No desenvolvimento de alimentos funcionais e suplementos é importante avaliar não apenas a presença dos fitosteróis na matriz durante o shelf-life, mas também quantificar seus principais produtos da oxidação e a suplementação de fitosteróis na infância ainda não deve ser recomendada.

Dra Elizabeth Johnson, da Universidade Tufts, abordou as novas hipóteses sobre a ação das Xantofilas e a influência de fatores genéticos e não genéticos. Observou que em bebês a nutrição tem grande impacto no desenvolvimento dos olhos, pois as retinas infantis são mais suscetíveis ao dano oxidativo, o que também ocorre no envelhecimento com uma degeneração natural. Por isso, há a necessidade de antioxidantes para esta proteção.

Há vários estudos sobre o papel da luteína na manutenção da função visual e cognitiva ao longo da vida. A suplementação de carotenóides, por exemplo, pode diminuir a inflamação e melhorar a sensibilidade do fotorreceptor em recém-nascidos prematuros. Já a densidade de pigmento macular está relacionada à função cognitiva e a níveis cerebrais de luteína e zeaxantina, que interferem no melhor desempenho cognitivo em idosos. Por isso, a suplementação de luteína pode contribuir para melhorar a função cognitiva. Citou uma intervenção dietética com abacates ou ovos que mostraram ser possível aumentar os níveis de luteína neural, o que pode ser uma estratégia alimentar eficaz para a saúde cognitiva em adultos mais velhos.

Em uma segunda palestra, falou sobre a possibilidade de estabelecer a ingestão desejável de compostos bioativos, como Luteína e Zeaxantina. Mostrou estudos em casos de catarata e observou que existe uma proteína de ligação específica para a luteína na retina e que, embora não haja atualmente uma dose diária recomendada de luteína, em  diversos estudos, foram observados efeitos positivos na prevenção de doenças oculares nos níveis de ingestão de aproximadamente 6 mg/ dia.

Dr. Rubens Feferbaum, do Instituto da Criança – HCFM/USP abordou os conhecimentos atuais sobre prebióticos do leite humano e perspectivas em alimentação infantil.  Destacou que nos últimos anos se busca entender melhor o fator bífidus – carboidratos, oligossacarídeos e lactose – os quais seriam o combustível para o crescimento de bactérias, milhares delas ainda não identificadas.

Salientou a importância dos oligossacarídeos no leite humano – e não presentes no leite de vaca – como fundamentais na formação do tecido cerebral e proteção inflamatória. Observou que eles podem se reunir em diversas configurações, que ocorrem de forma aleatória na mama e dependem da genética materna. Por isso, a produção destes oligossacarídeos é diferente de uma mãe para outra. Hoje já há estudos de síntese bioquímica para alguns HMOs, que poderiam estar disponíveis para fórmulas infantis.

Outros pontos importantes a serem considerados, ao pensar nessas substâncias, é a diminuição geral do número de bactérias intestinais; redução da diversidade bacteriana na microbiota intestinal; bactérias patogênicas que dominam a microbiota fecal de neonatos críticos, em uma UTI neonatal, que são isoladas com frequência na hemocultura, e a consequência dos antibióticos, meio ambiente, jejum e nutrição parenteral prolongada.

Prof. Dr. Dan Waitzberg, da Faculdade de Medicina da USP, falou sobre probióticos no eixo intestino-cérebro e apresentou os psicobióticos, talvez os novos funcionais em futuro próximo.  Chamou a atenção para o alto nível de estresse a que estamos permanentemente sujeitos, sua relação importante com o meio ambiente e as respostas do nosso organismo a este mal do século. Neste contexto, observou a importância da relação entre mente e corpo e os reflexos físicos e psicológicos causados pelo estresse, em especial nos problemas gastrintestinais.

Lembrou que a interação entre estresse, eixo hipofisário e sistema imunológico já é bem conhecida. Na verdade, o intestino poderia ser considerado um segundo cérebro, considerando que 70% das células neurais do nosso corpo estão localizadas nele. Adicionou que é o intestino, particularmente o grosso, o maior repertório da microbiota e que esta participa ativamente no eixo intestino-cérebro. A atividade funcional do eixo intestino-cérebro é bidirecional via nervo vago, sistema endócrino e sangüíneo. Ela é acionada em resposta a diferentes distúrbios, incluindo aqueles relacionados ao estresse e também alterações na microbiota.

A continuidade de impulsos negativos deflagradas por distúrbios emocionais, alterações ambientais, da dieta e estilo de vida, pode se desenvolver em mensagens de estresse e, eventualmente, desaguar em um círculo vicioso e desencadear doenças de caráter digestivo e neurológico. O uso de probióticos pode vir a ser uma alternativa para o equilíbrio da microbiota e reforço da barreira intestinal, e talvez, auxiliar para reduzir o efeito global da ansiedade e estresse.

Assim, a nova classe de probióticos, os psicobióticos, são organismos vivos que ingeridos em quantidades adequadas, poderão trazer efeitos benéficos em pacientes com alterações psíquicas, aproveitando sua funcionalidade no eixo intestino-cérebro.

Dra Susana Saad, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, falou sobre os probióticos na manutenção da saúde intestinal e os vários mecanismos e sua avaliação. Explicou que na era pós-genômica se tem tido uma melhor compreensão de como a microbiota interage com a fisiologia do nosso organismo, em virtude do desenvolvimento de novas técnicas de biologia molecular.

Este contexto leva a uma tendência de integrar a microbiota de um indivíduo com um cuidado à saúde personalizado, considerando que o microbioma intestinal é abundante, em quantidade e diversidade de células, e sofre influência desde o início da vida. O bebê não nasce estéril. Já há uma colonização prévia neste momento e, durante o parto normal, ocorre uma importante troca mãe-bebê, o que não acontece na cesariana. A alimentação exclusiva com leite materno ou mudanças alimentares no primeiro ano de vida também farão diferença na microbiota, que se consolidará entre os 2 e 3 anos de idade e permanecerá mais ou menos constante na fase adulta.

A variedade da dieta de um indivíduo implica na variabilidade de seu microbioma intestinal que, por sua vez, resulta em uma fisiologia saudável e na manutenção da homeostase do intestino e da imunidade. E, por isso, é cada vez mais alvo de intervenção na gestão da saúde e de doenças. Neste contexto, a aplicação de probióticos e prebióticos visa reconstituir as comunidades microbianas encontradas em indivíduos que tiveram parto normal, foram amamentados e que não são obesos, e a restauração das interações microrganismo–hospedeiro e consequente modulação da função da barreira intestinal.

A importância dos probióticos para manutenção da saúde e no tratamento de doenças do TGI (Trato Gastrointestinal) é indiscutível. Entretanto, são necessários estudos bem desenhados, controlados e multicêntricos para esclarecer o papel de probióticos específicos em populações bem definidas.

Dra Flavia Mori Sarti, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, abordou modelos para avaliação econômica de intervenções em saúde (Health Technology Assessment) que possam ser aplicados para dimensões nutricionais dos alimentos funcionais em saúde pública. Alertou para crescentes demandas na área de saúde, frente a recursos escassos, o que resulta em custos crescentes para sistemas de saúde nacionais. Assim, torna-se importante lançar mão de ferramentas para auxílio ao processo de tomada de decisão, que permitem selecionar melhores estratégias para alocação de verbas para obtenção dos melhores resultados, a partir de análise da relação entre custos e efeitos. Usando indicadores de resultados nas dimensões de eficiência, efetividade e eficácia, é possível projetar custos para programas ou ações em saúde, tanto para análise de ações planejadas, em andamento ou já concluídas.

Comentou que há mudanças na abordagem da saúde, anteriormente pensava-se somente em tratamento de doenças, atualmente avalia-se perda de recursos produtivos e qualidade de vida das populações em decorrência da doença, assim como se busca a prevenção de doenças e promoção da saúde como estratégia para benefício social. Uma das questões importantes na avaliação econômica em saúde é buscar associar análise de custos em comparação com desfechos em saúde obtidos. A avaliação unidimensional dos custos em saúde pública deve ser evitada, pois uma lacuna na mensuração dos desfechos em saúde, cujos impactos são múltiplos.

Há ainda escassez de estudos que associem dimensão econômica, impacto orçamentário e mensuração dos impactos em saúde, entre outros aspectos. A viabilidade econômica de compostos bioativos com reflexo nos benefícios para saúde dos alimentos funcionais, é avaliada com intervenções específicas em nutrição clínica. Mas, ainda, há poucas evidências para avaliação ampla, em termos de consumo alimentar em nível populacional, o que abre uma possibilidade de pesquisa.

Dr. Antonio Marcos Pupin, da Nestlé, mostrou os avanços regulatórios no Brasil – alimentos funcionais, compostos bioativos e probióticos. Destacou toda mobilização em relação à nova legislação de suplementos e dos exigentes parâmetros a serem observados a cada lançamento de produto, o que demanda um amplo planejamento por parte das indústrias. Observou as mudanças na área regulatória nos últimos 10 anos e o papel da ANVISA, neste contexto, traçando um panorama das evoluções das legislações e seus impactos nos portfólios das empresas gerando muitas discussões e argumentações de todas as partes envolvidas.

Naira Sato, Diretora de Pesquisa da Mintel, traçou um panorama global e o estágio atual dos alimentos funcionais no mundo, com a forte tendência de ampliação de alimentos e bebidas com diferentes alegações de benefícios para saúde. Uma das tendências neste mercado é utilizar as plantas como ingredientes, o que aponta que o foco natural apresenta potencial para comunicar responsabilidade ambiental, ética e social.

As principais conclusões desta análise mostram que lançamentos funcionais de alimentos e bebidas estão crescendo globalmente, mas no Brasil há muitas oportunidades para explorar. Os consumidores querem alternativas para uma dieta saudável e também estão procurando por saúde holística e os produtos podem oferecer benefícios mais emocionais. Embora seja importante comunicar mais sobre os benefícios funcionais em alimentos e bebidas, as empresas devem ser mais transparentes para ganhar a confiança dos consumidores.

Dr. George Paraskevakos, da IPA – International Probiotics Association, abordou os avanços no desenvolvimento de Probióticos, Alimentos, Suplementos e Efeitos na saúde, segurança e regulamentação. Levantou a questão de como comunicar a ciência, considerando as variadas situações dos ógãos reguladores que são tão específicas e existem globalmente. E é dentro deste cenário que a IPA tem atuado.  Destacou o  aumento do consumo de probióticos, com movimento de 39 nilhões de dólares, distribuído entre iogurtes (74%), leites fermantados (15%) e suplementos (11%). O amplo crescimento em suplementos gerou U$ 4,3 milhões de dólares globalmente . Só em 2017 este consumo superou em 5 vezes os iogurtes. Observou, porém, que as fontes de probióticos no mundo têm variado, de acordo com as diferentes culturas. Porém, este mercado tem mudado continuamente, inclusive na área regulatória, e o que acontecerá no mundo farmacêutico impactará diretamente nesse setor, com claims para tratamento ou prevenção.  Neste contexto irão surgir novos suplementos com benefícios específicos à saúde, que serão adaptados para condições específicas – como idade e sexo, por exemplo, e as inovações e descobertas abordarão novos alvos de saúde, em especial nos EUA, com taxas de crescimento muito promissoras.

 

A Itália tem regras claramente definidas para os probióticos, (apesar da EFSA), o resto da União Européia está bastante estagnado. Chamou a atenção para o fato de que desde a introdução das diretrizes da EFSA, o mercado e, especificamente, os iogurtes probióticos, retrocederam. Então como podemos gerenciar essa disparidade ou Triângulo das Bermudas de regulamentações globalmente? Indagou. Disse, ainda, que os probióticos são seguros, mas talvez os governos devam considerar os regulamentos específicos, pois são únicos. O IPA tem comitês de trabalho que estarão acompanhando a discussão sobre a esses requisitos específicos,  dedicando-se à  criação de um conjunto de diretrizes completas e abrangentes para o setor.